segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Vocês não têm saudades? Eu tenho e vou voltar!

Penso que há sempre uma fase da nossa vida em que estudar é sinónimo de pesadelo. Quando andamos na escola ou na faculdade, sonhamos com o dia em que os estudos vão acabar de uma vez por todas e vamos começar a trabalhar. Normalmente, os mais velhos dizem-nos para aproveitarmos bem essa fase da nossa vida, porque aqueles tempos é que são bons e nós, normalmente, encolhemos os ombros, reviramos os olhos e achamos que os mais velhos estão a delirar, até porque essa fase da nossa vida costuma coincidir com aquela em que achamos que somos donos e senhores da razão e de toda a sabedoria do universo. Nós é que sabemos o que é "fixe" e o que é "fixe" é começar a trabalhar e não ter de aturar os chatos dos professores. "Quando trabalhar faço o que eu quiser!"


Coitadinhos, tão inocentes que somos nessa altura e tão longe da verdade que nós estamos. Então estudar é que é uma seca? Trabalhar é que é bom? Quando trabalhares fazes o que quiseres? De facto quando me lembro de ter alguns destes pensamentos, dá-me vontade de atirar para o chão e rebolar de tanto rir. É verdade que trabalhar é bom quando trabalhamos naquilo que gostamos e eu felizmente, não me posso queixar. No entanto, se o nosso emprego está longe de ser aquilo que sonhamos, haja coragem. Quanto ao fazer o que quero no meu emprego, isso já é outra conversa. São mais as vezes em que me vejo obrigada a fazer o que me mandam, do que faço exactamente o que quero. Quanto à parte de deixar de aturar os professores... Pois bem, pelo menos os professores vão variando e não aturamos sempre o mesmo, já o patrão, esse não muda e quando é chato, o melhor é mesmo respirar fundo.


Talvez por ser professora, tenha tomado, rapidamente, consciência da quantidade de vezes que fui uma palerma para os meus professores. Mas faz parte, não é verdade? Sabe sempre bem acharmos que somos os maiores! No entanto, não deixei de ser uma valente parvinha. A verdade é que foram tantos os professores que não gostei como aqueles que gostei e até tive a sorte de ter alguns que adorei!


Nunca, mas nunca me vou esquecer da minha professora de piano. Era a professora Isabel e tanto que eu gostava dela e gosto. Lembro-me de ir para as aulas de piano feliz, mas mesmo mesmo feliz. Para mim, ela era bem mais do que uma professora, eu via-a como uma amiga e como alguém que estava sempre ali para me ajudar. Acho que ela nem imagina, nem nunca imaginou, o quanto eu gostava das aulas dela e o que significavam para mim.  Se não me engano, foi minha professora durante três anos e meio e num desses anos eu passei por uma fase mais complicada da minha vida e mal ela sabia que a única coisa que me deixava feliz naquela altura, era ir ter com ela para ter aula de piano. O pior, é que eu fui tão parva que deixei de aparecer na aulas de um momento para o outro e sabem porquê? Porque comecei a trabalhar e o trabalho ocupava-me demasiado tempo. Fui sempre prometendo a mim mesma que lhe ia ligar a explicar o porquê de ter fugido assim, mas o tempo foi passando e a vergonha de lhe aparecer à frente foi aumentando, e de que maneira. O resultado foi ter deixado o último ano de piano por concluir e nunca mais ter dito nada à professora Isabel, coisa de que muito me arrependo.



Mas vamos lá deixar-nos de dramatismos, porque nunca é tarde para reparar os estragos da tempestade de estupidez que deixámos para trás. Vou voltar a estudar. Pois é, vou voltar a estudar, está decidido e não podia estar mais feliz. A vergonha de ligar à professora Isabel não passou, mas apareceu-me um anjo caído do céu, a Teresa. A Teresa sempre tocou muito bem piano e foi minha colega na escola onde estudei música. Sempre tive pena de não sermos mais próximas. Ela era daquelas pessoas que tinha sempre um sorriso para dar e uma palavra alegre e de incentivo a dizer, em todas as situações. Gosto de pessoas assim! Quando pensei em voltar a estudar piano, lembrei-me logo dela, perguntei-lhe se ela me queria aturar e ela disse que sim, para minha grande surpresa e felicidade. Já tivemos a primeira aula e correu muito bem (pelo menos para mim, já ela não sei se ficou com uma valente dor de cabeça de me ouvir tocar, mas como é simpática, sorriu como sempre). Não me podia estar a sentir melhor por voltar a estudar piano e melhor ainda por estar a fazê-lo com a ajuda de alguém que me deixou logo tão entusiasmada. Foi bom ouvir as palavras da Teresa e sentir que é possível dar conta deste desafio a que me propus.
No final do ano, quando completar o oitavo grau de piano, prometo que me vou encher de coragem e dizer à professora Isabel. Também quero dizer à professora Margarida, que foi a minha primeira professora de piano, era eu tão pequenina e de quem eu também tanto gostei e gosto.
Vou viver de tanto aprender!


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